A correspondência de Liciniano de Cartagena a Gregório Magno:

desafios e compromissos institucionais de uma liderança eclesiástica

Resumo

Tendo chegado à Península Hispânica como arianos, a conversão dos visigodos à ortodoxia nicena reafirmou o vigor da instituição eclesiástica. Concomitantemente ao trabalho associado ao processo de conversão do monarca e da nobreza, o episcopado buscou organizar e consolidar aspectos diversos da dinâmica interna da igreja visigoda. Assim, dentre outras iniciativas, dedicou-se à formação clerical qualificada, ao estabelecimento de práticas litúrgicas uniformes, à indicação de perfis morais ao clero, à reafirmação da disciplina e à valorização da hierarquia.

Nessa conjuntura, uma vasta literatura foi concebida por figuras expressivas no ambiente episcopal. Nos séculos VI e VII, além da produção textual dessas figuras, observa-se uma atividade literária de menor envergadura relacionada à atuação regional de integrantes do episcopado. Tais bispos, ainda que com restrito protagonismo no cenário político, se comparados a personagens como Leandro e Isidoro de Sevilha, compartilhavam o mesmo habitus destes. Nesse sentido, estavam comprometidos com a pauta interna da instituição, conforme se pode depreender pela apreciação da documentação como a vinculada a Liciniano, bispo de Cartagena. Fundamentada em tais referências, neste texto, interessa debater aspectos do funcionamento da igreja visigoda, com ênfase nos desafios enfrentados pelas lideranças clericais, a partir da correspondência de Liciniano para Gregório Magno.