Nr. 21 (2021): Revista Diálogos Mediterrânicos - Dossiê "O Mundo da Antiguidade Tardia de Peter Brown 50 anos depois"
Os debates sobre o fim do mundo Antigo e o princípio da Idade Média ganharam particular atenção desde a publicação da monumental obra de Edward Gibbon (1737-1794) The Decline and Fall of the Roman Empire no último quarto do século XVIII. Desde então historiadores antiquistas e medievalistas colocaram em evidência as premissas acerca da paisagem representada desde a fragmentação política do Império Romano no Ocidente e suas implicações sociais até a expansão do cristianismo. No princípio do século XX emergiu entre os historiadores alemães da arte o conceito de Spätantike – Antiguidade Tardia –, pelo qual seus defensores argumentavam que o processo de transição fora, antes de mais, caracterizado pelo “declínio” e “queda” da civilização romana do Ocidente. Contudo, será em 1971 que a pioneira obra de Peter Brown “The world of Late Antiquity” que o conceito ganhará renovado fôlego pela pena dos historiadores da política, cultura e religiões. De acordo com essa nova perspectiva, os padrões clássicos seriam revisitados projetando, sobretudo, as linhas de um novo mundo cerzido na bacia mediterrânica sob a ótica de três civilizações: o Ocidente europeu católico, Bizâncio e o Islã, edificados pela transformação do mundo romano desde suas estruturas sociais, políticas e culturais. Tal postura histórica e historiográfica negava a perspectiva pessimista da historiografia até meados do século XX, época na qual seus prosélitos defendiam ainda a ideia de decadência ou declínio. A proposta deste dossiê é reunir estudos que reflitam sobre o conceito de Antiguidade Tardia e suas múltiplas implicações na historiografia atual.